A loucura chamada afirmar, a
doença chamada crer, a infâmia...
A loucura
chamada afirmar, a doença chamada crer, a infâmia chamada ser feliz — tudo isto
cheira a mundo, sabe à triste coisa que é a terra.
Sê
indiferente. Ama o poente e o amanhecer, porque não há utilidade, nem para ti,
em amá-los.
Veste teu
ser do ouro da tarde morta, como um rei deposto numa manhã de rosas, com Março
nas nuvens brancas e o sorriso das virgens nas quintas afastadas. Tua ânsia
morra entre mirtos, teu tédio cesse então [...] e o som da água acompanhe tudo
isto como um entardecer ao pé de margens, e o rio, sem sentido salvo correr,
eterno, para marés longínquas. O resto é a vida que nos deixa, a chama que
morre no nosso olhar, a púrpura gasta antes de a vestirmos, a lua que vela o
nosso abandono, as estrelas que estendem o seu silêncio sobre a nossa hora de
desengano. Assídua a mágoa estéril e amiga que nos aperta ao peito com amor.
[...]