Às vezes a
ficção dá-nos a ideia de que é possível, nomeadamente de que é fácil. Fácil
viver, fácil perder e ganhar, fácil perder e encontrar, fácil o encontrar.
Porém a realidade, sem delicadeza ou suavidade, mostra-nos que o encontrar é tão raro. Relembram-se
os verdes anos, o tempo em que todos os sonhos eram possíveis (quando a ficção não
nos era tão extrínseca, mas misturava-se em nós como coisa vivida). Nesses tempos não houve a generosidade dos deuses na abundância dos encontros, mas disso não se reclamava. Houve o frémito da pequena emoção, do olhar que se
roubava, do sorriso ou toque que se resgatava. Achava-se, à época, que tal era
privilégio raro, e como o tempo passava lento demorávamos-nos no viver de tais
emoções, não pensando na raridade.
Hoje sabe-se que, ainda que tudo seja tão breve, é mais raro que
breve.